Resenha: O dia em que decidi morrer - Francine Porfirio

29 de agosto de 2016
Título: O dia em que decidi morrer
Autora: Francine Porfirio
Editora: Publicação Independente
Ano: 2016
Páginas: 22
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Sinopse: "Sempre fui reservado. Acho que apenas perdi a tênue distinção entre a privacidade e a solidão. Não sei quando comecei a me sentir assim. Sinceramente, não importa. Eu passei pelos dias, os dias passaram por mim." - Um conto sobre suicídio.















 Eu não me sinto confortável para falar sobre a morte. Tenho medo de perder. Não deveria ter, já que atuo na área da saúde. 
 A morte como um processo natural é assunto inconveniente para a maioria das pessoas. Agora, a morte como escolha individual é um tabu para a sociedade. 
 Fico pensando nos motivos que levam uma pessoa a decidir tirar sua própria vida. Já li muitos livros de ficção que abordam o tema e conseguiram me ajudar a identificar os sinais, pois é fato que a decisão de se matar não é tomada da noite para o dia. 
 No período em que lecionava numa escola do interior de Goiás, fiquei chocada quando, ao chegar, soube que um dos alunos havia se matado. No dia anterior, ele foi normalmente à escola, brincou, riu, falou bobeiras como sempre fazia. Ele era gay e há poucos dias passou a se maquiar. Causou impacto na comunidade escolar. Talvez se maquiar tenha sido um sinal.
 Nos dias de hoje, tenho três clientes que já tentaram suicídio. E por isso me interesso tanto pelo tema, pois ao atendê-los tenho receio de não fazer uma abordagem adequada.


 Li O dia em que decidi morrer buscando justamente mais luz para essa abordagem. Afinal, o conto foi escrito por uma psicóloga. Quando a Fran, autora do conto, divulgou no face, colocou um adendo dizendo que uma das coisas que ela esperava conseguir com a leitura de seu livro, era justamente provocar a discussão sobre o assunto entre os leitores. 
"Acho que a morte sempre desperta certa curiosidade mórbida entre as pessoas." - posição 180
 Li em poucas horas, o conto é curto, mas como tenho problema em lidar com a perda e o título me remetia a ideia da certeza da morte; foi um turbilhão de emoções em cada linha.
 O conto traz como personagem um homem que optou pelo suicídio. Não esperem um grande motivo, a Fran nos deu um exemplo bem diferente da maioria das ficções literárias e cinematográficas: nosso personagem não está passando por falta de dinheiro, nem sofreu uma traição, abuso, preconceito, perda de ente querido, etc etc. Ele simplesmente não enxergava um motivo para viver. A rotina maçante, a falta de amor próprio, contribuíram para a decisão.
 É uma obra fictícia, já ressalto que seu desenvolvimento foi magnífico. A Fran arquitetou um conto incrível, surpreendente e que foi capaz de provocar reflexões em mim enquanto leitora. Digo mais: auxiliou até mesmo na minha conduta enquanto profissional da saúde. Foi muito mais que uma simples leitura, tomei como experiência.
 Sei que ficarão se perguntando: “ler um conto que traz suicídio como tema não é deprimente?”. Respondo: este não é. É fato que temos aspectos tristes, mas a mensagem contida no conto é bela. A autora nos presenteou com personagens fortes e cativantes, que ser tornarão inesquecíveis para quem ler. 
 Parabenizo à Fran e deixo minha recomendação de leitura para todos. Em tempos onde o suicídio mata mais jovens que o próprio HIV, é preciso discutir o tema, mostrar o que precisamos fazer para evitar e ajudar quem decide tomar esse caminho. 
 O dia 10 de setembro é tido como o mundial de prevenção ao suicídio. Precisamos de mais ações, e este conto é um material perfeito para base de debates, discussões e reflexões. 
Nota: 5/5
Sobre a autora:
 "Sou como qualquer pessoa comum, incapaz de ser feliz sozinha." 
 Francine Porfirio é uma curitibana abraçada a várias atividades, todas pelas quais é apaixonada. Psicóloga por formação, Consultora Educacional e Assessora Editorial por profissão, Escritora por vocação, Blogueira por paixão.
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Outras obras:

Tobias Amores Impossíveis Livro dos novos Equinócios de Amor

Post por: Bia Gonçalves
Sua maior paixão são os livros que lhe fazem viajar. Odeia mesmices, por isso adora se aventurar nas páginas de uma boa fantasia e se prender a um terror daqueles de parar o coração.
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10 comentários:

  1. Oi, Bia!
    Realmente as pessoas dão muitos sinais quando estão chegando no limite e isso é bem triste.
    Pensei que seria um livro, mas mesmo sendo conto quero ler.
    Beijos
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    1. Oi Luiza! Como pôde ver, eu recomendo a leitura. É rápida, mas tem uma mensagem profunda e alarmante.
      Beijos

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  2. Olá, Bia.
    Suicídio é um assunto bem complexo e gosto de ler sobre. Os sinais, o limite sendo alcançado, tudo isso é muito profundo e também triste.
    Certamente pretendo ler o conto.

    Desbravador de Mundos - Participe do top comentarista de agosto. Serão dois vencedores e um deles levará um vale compras!

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    1. Oi Marcos! Espero que leia sim, a Fran conseguiu mostrar uma nova perspectiva.
      Beijos

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  3. Bianca, tê-la como leitora num privilégio para qualquer autor. Você lê com a alma, com o coração, com tudo de si... É especial ler sua resenha e perceber a sua sensibilidade na interpretação do texto. Obrigada por dedicar tempo em prestigiar meu conto e dar sua opinião.

    Eu vivi uma experiência pessoal com o suicídio e, desde então, soube de cinco casos próximos a mim. Todos jovens, todos com "o futuro pela frente", todos desapegados de qualquer razão para viver. Eu não "decidi" escrever o conto, ele parecia "me pedir" para sair. Meu processo criativo começa com uma ideia, mas nunca me oferece o início, o meio ou o fim. O desenvolvimento e o desfecho acabam vindo naturalmente, durante a escrita, e mesmo que me esforce para interferir um pouco no enredo... os personagens me conduzem como desejam. É estranho, mas nunca me sinto como sua "criadora" (rs). Também sou leitora do que escrevo.

    A maioria dos casos de suicídio que repercutem na mídia são de pessoas que sofreram um trauma, foram abusadas ou tiveram experiências infelizes com as quais não souberam lidar. Elegi como protagonista alguém como nós, que talvez esteja perdendo para a depressão aquela centelha que nos faz acordar todas as manhãs e viver mesmo que sem ânimo algum. A diferença entre um suicida e nós, no momento da tristeza e no momento em que as coisas perdem o sentido, é a motivação para seguir em frente ou parar. Especialmente quando estamos no pior momento de nossas vidas, reconhecer o que não podemos mudar é o primeiro passo para aceitá-lo. É o primeiro passo para abandonar o sentimento de fracasso diante daquilo que não depende de nós. É o primeiro passo para dividir o que podemos fazer do que não podemos fazer por nós mesmos.

    Enfim, saber que o conto conseguiu transmitir uma mensagem positiva a você me faz feliz. Eu espero, sinceramente, que sirva para as pessoas refletirem sobre o tema nem que seja um pouco. :)

    Beijo carinhoso, flor!
    www.myqueenside.com.br

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    1. Oi Fran, sempre um prazer tê-la aqui no blog.
      Muito obrigada, como leitora, admiro muito o cuidado que tem com a escrita. Isso é perceptível no seu blog, seja com posts que tem o único intuito de entreter, testemunhamos a riqueza e o cuidado com a língua portuguesa. Por si só, já é um atrativo para que eu largasse tudo e lesse seu conto. Mas acima de tudo, ter uma análise profissional dentro de uma história fictícia, foi o que mais me motivou a ler. E assim como você, também espero que o conto consiga atingir mais pessoas, e atinja o objetivo de provocar reflexão e até mesmo ações acerca do tema.
      Beeijos ♥

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  4. Olá Bia,
    A Fran é uma pessoa incrível que tem o dom de abordar temas complexos e nos fazer pensar. Já li Tobias e adorei a leitura. Quando ela divulgou esse conto, soube que eu precisava ler, mas ainda não surgiu a oportunidade.
    Adorei conhecer sua experiência e, principalmente, saber que esse conto não foi deprimente.
    Parabéns pela incrível resenha.
    Beijos ♥

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    1. Oi Bruna! Também adorei Tobias, na época estava sem blog e não resenhei. Irei postar uma resenha em breve sobre esse conto também.
      Concordo plenamente, a Fran é incrível, e sabe muito bem usar a ficção como meio de causar reflexões no leitor.
      Espero que leia.
      Beijos

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  5. Oii Bia...
    Nossa me interessei muito pelo tema, confesso que no meu caso gosto de ler livros assim pela curiosidade, de saber ou tentar entender o que se passa na cabeça das pessoas.
    Quero ler esse conto e tirar as minha conclusões sobre a obra.
    Adorei sua resenha
    Beijo

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    1. Oi Renata!! Espero que leia, é realmente diferente de tudo que já li sobre o assunto.
      Beijos

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